No universo do futebol argentino, onde a paixão costuma beirar a loucura, poucas histórias são tão genuínas e comoventes quanto a de Julio Roque Pérez, eternizado como «El Loco Julio». Torcedor símbolo do Club Deportivo Godoy Cruz Antonio Tomba, de Mendoza, ele não foi apenas um adepto nas arquibancadas; foi um benfeitor que, literalmente, ajudou a construir a casa do clube com o próprio sacrifício.
De uma vida humilde ao amor pelo Tomba
Nascido em 1940, em Ingeniero Giagnoni, Mendoza, Julio teve uma vida marcada pela simplicidade e, por vezes, pela extrema pobreza. Mudou-se para o departamento de Godoy Cruz ainda jovem, aos 12 anos, após a morte do avô. Foi ali, vivendo nas ruas e trabalhando na coleta de lixo e reciclagem, que encontrou o amor da sua vida: o Godoy Cruz.
A sua relação com o clube transcendeu o fanatismo comum. Julio não tinha família próxima nem bens materiais, então adotou o «Tomba» (apelido do clube) como o seu lar e a sua razão de viver. Era figura onipresente nos treinos e jogos, acompanhando a equipe onde quer que fosse, muitas vezes a pé ou pedindo carona.

O prêmio da loteria e a doação histórica
O episódio que elevou «El Loco Julio» ao estatuto de lenda aconteceu quando ele tinha apenas 15 anos. Vencedor da Lotería de San Juan, Julio recebeu uma quantia considerável de dinheiro, uma fortuna que poderia ter mudado a sua vida pessoal, tirando-o da pobreza e garantindo-lhe conforto.
No entanto, em um gesto de altruísmo que define a sua lenda, Julio doou todo o dinheiro ao clube. O Godoy Cruz passava por um momento de expansão e necessitava de recursos. Com a doação de Julio, o clube construiu uma das tribunas do estádio Feliciano Gambarte e instalou o sistema de iluminação artificial.
Quando questionado sobre o motivo de tal gesto, a sua resposta sempre foi simples e desarmante: o clube era a sua família, e ele queria ver a sua família crescer. Ele continuou a viver de forma humilde, trabalhando como gari municipal, sem nunca reclamar ou pedir nada em troca.

O legado eternizado
Julio Roque Pérez faleceu em 12 de maio de 2020, aos 80 anos, causando uma comoção massiva em Mendoza. Mesmo em plena pandemia, centenas de torcedores saíram às ruas para acompanhar o cortejo fúnebre, uma despedida digna de um ídolo máximo.
O reconhecimento do clube veio ainda em vida. Em 2016, o Godoy Cruz inaugurou uma estátua em sua homenagem no estádio Feliciano Gambarte, imortalizando a figura magra, de boné e sorriso fácil que tanto amou aquelas cores. Além disso, o bulevar próximo à sede do clube foi batizado com o seu nome.
A história de «El Loco Julio» é um lembrete poderoso de que o futebol é feito, acima de tudo, pela gente. Ele provou que a riqueza de um torcedor não se mede pelo que tem no bolso, mas pelo que é capaz de entregar pelo escudo que ama.
FAQs sobre El Loco Julio
Quem foi «El Loco Julio»?
Julio Roque Pérez, conhecido como «El Loco Julio», foi o torcedor mais famoso e símbolo do Godoy Cruz, clube de Mendoza, Argentina.
Qual foi o grande gesto que o tornou uma lenda?
Aos 15 anos, ele ganhou na loteria e doou todo o prêmio ao Godoy Cruz para a construção de uma arquibancada e do sistema de iluminação do estádio, mesmo vivendo em condições de pobreza.
Qual era a profissão de Julio Roque Pérez?
Ele trabalhou durante grande parte da vida como gari (varredor de rua) e coletor de recicláveis na cidade de Godoy Cruz.
Como o clube homenageou El Loco Julio?
O clube ergueu uma estátua em sua homenagem no estádio Feliciano Gambarte em 2016 e batizou uma rua próxima à sede social com o seu nome.
Quando faleceu El Loco Julio?
Ele faleceu em 12 de maio de 2020, aos 80 anos, gerando uma grande mobilização de torcedores em sua despedida.
Por que ele é chamado de «Loco»?
O apelido carinhoso refere-se à sua paixão desmedida e incondicional pelo clube, que muitos consideravam uma «loucura» saudável, especialmente dado o seu desapego material em prol do time.







